Apesar de uma conturbada fundação, o Estado de Israel se consolidou perante seus vizinhos-inimigos por meio de uma forte política, quando não por meio das armas. A concretização de Israel, no Oriente Médio, transfigurou-se em uma problemática questão de interesse internacional, onde a paz cada vez mais se mostra acanhada. Cada um com sua bandeira, Israel e seus vizinhos encontram uma cambiante legitimidade para dar continuidade à luta.
Antes do nascimento do Estado de Israel, a criação da pátria já se tornara objeto de discussão global. No fim do século XIX, o judeu austríaco Theodor Herzl fortemente animou o imaginário da comunidade judaica internacional ao propor a criação de um estado israelense para, basicamente, servir de proteção aos seus pares, visto o alto grau de antissemitismo que percorria diversos países, sobretudo os europeus.
A esperança de uma pátria para os judeus começou a incendiar a imaginação de muitos e várias das cúpulas ocidentais concordavam que o povo judeu deveria ter sua própria nação mais uma vez. A problemática residia em encontrar a nação que cederia parte de seu território para tal fundação.
Em 1917, durante a Primeira Guerra Mundial (1914–1918), Arthur Balfour, um influente político britânico, enviou uma declaração ao lorde Rothschild, um banqueiro judeu e financiador de projetos judaicos na Palestina. A “Declaração de Balfour”, como ficou conhecida, apoiava a criação, na Palestina, de um lar para o povo hebreu. Entretanto, até então, a Inglaterra não possuía poderes sobre o território, que, à época, ainda pertencia ao Império Turco-Otomano, seu adversário na guerra.
Com o término da Primeira Guerra Mundial, entretanto, o gigantesco e conturbado Império Otomano deixou de existir, esfacelando-se em diversas “pátrias”. A Liga das Nações, órgão internacional que visava evitar uma nova guerra, concedeu, mediante mandato, à Inglaterra e à França o domínio sobre alguns dos antigos domínios otomanos, sendo àquela responsável pelo controle territorial do que se tornariam Israel, Jordânia, Cisjordânia e Gaza.
O plano de Balfour também concebia o reconhecimento dos direitos civis e religiosos dos povos islâmicos, ao mesmo tempo em que estava disposto a ajudar árabes em outras regiões. Os britânicos apoiaram a criação de uma província chamada Transjordânia para os palestinos. No entanto, o plano inglês abrigava um equívoco que se mostraria trágico: acreditava-se que os árabes aceitariam passivamente a chegada dos judeus.
Posteriormente, nas décadas de 1920-1930, cada vez mais judeus chegavam à Palestina, transformando o modo de vida da região. Muitos árabes se posicionaram contra e os primeiros atritos/confrontos logo se iniciaram. Os países vizinhos da Palestina, que eram e continuam a ser muçulmanos, não desejavam que o povo palestino ficasse em segundo plano uma vez que já estavam ali — e há bastante tempo.
O governo britânico, por mais difícil que fosse, tentou manter o equilíbrio, mas após o término da Segunda Guerra Mundial (1939–1945), quando as vísceras do Holocausto (massacre de aproximadamente seis milhões de judeus) foram expostas aos quatro cantos planeta, a centelha da união dos judeus para com seu próprio povo nunca ardeu tanto. Transformou-se em ufanismo e o sionismo (nacionalismo judeu), mais do que nunca, compreendido foi por parte considerável dos semitas. Consequentemente, o Congresso Sionista Mundial solicitou que um milhão de judeus fossem acolhidos na Palestina, o que comoveu o coração de milhões de pessoas.
Na Palestina as opiniões divergiam radicalmente e mostravam que estava cada vez mais difícil de conciliar interesses judeus e palestinos — alguns já pegavam em armas. A recém-criada Organização das Nações Unidas (ONU) teria que provar seu valor formulando alguma solução em que ambas as partes concordassem, mesmo que a nação israelita fosse fundada em outro local — solução esta que os palestinos concordavam, mas não os judeus que já somavam grande número no Oriente Médio.
Em maio de 1947, as Nações Unidas instituíram um comitê para delimitar o espaço para cada um dos povos no minúsculo território palestino, sendo as divergências entre as partes, mais uma vez, notórias e conturbadas. Deste comitê foi aconselhada a criação de dois estados independentes, um judeu e outro palestino. O relatório também estabeleceu que os lugares sagrados aos dois povos deveriam ser permanecer neutros, sob a tutela permanente das Nações Unidas.
Em novembro de 1947, apesar da reprovação palestina, o projeto foi votado e aprovado na ONU. Isto forneceu aval para o surgimento do Estado de Israel. Os países islâmicos, em solidariedade aos palestinos, mais uma vez, repudiaram o ato tido como ilegítimo e despótico.
O principal argumento árabe era o de que detinham todo o território, portanto, não lhes interessava ficar com menos da metade dele (aproximadamente 55% judeu e 45% palestino). Os judeus responderam dizendo que, em épocas mais remotas, seus ancestrais eram os donos de toda a Palestina (em 70 d.c., os romanos, após um duro cerco à cidade Jerusalém, expulsaram os judeus da Palestina — episódio conhecido como a segunda diáspora; Nabucodonosor II teria dado causa à primeira em 586 a.c.).
Embora ambas as partes já estivessem se engalfinhando há algum tempo, diz-se que no dia 9 de abril de 1948 as bandeiras de paz exclamaram horror, quando o ódio foi hasteado entre judeus e islâmicos. Ocorre que na parte ocidental de Jerusalém, na pacata aldeia de Deir Yassin, árabes conviviam em harmonia com os seus vizinhos, um grupo de judeus ortodoxos, e a boa relação entre os dois lados era, inclusive, reconhecida.
Entretanto, a paz se calou quando Deir Yassin foi atacada por um grupo de judeus que teria causado a morte de aproximadamente 200 pessoas (a aldeia tinha uma população estimada em 400 habitantes). Grande parte das vítimas era composta por mulheres e crianças. A crueldade dos radicais judeus acarretou uma imensa indignação perante as nações muçulmanas, onde o diálogo foi sepultado e a Guerra Árabe-Israelense, de 1948, fora municiada e engatilhada.
O grupo que atacou a aldeia teria sido formado por paramilitares de dois grupos sionistas, o Irgun e o Lehi. O Massacre de Deir Yassin, dessa forma, ultrajou o princípio judaico da “pureza das armas”, manchando, com o sangue de inocentes, a reputação de Israel.
Nasce o Estado de Israel
No mês seguinte ao massacre, mais precisamente em 14 de maio, finalmente desabrochava a tão sonhada República de Israel. As tropas britânicas se retiraram por ocasião do fim do seu mandato e logo no dia seguinte se iniciou a primeira de tantas guerras da região: uma força militar combinada composta por egípcios, sírios, libaneses e jordanianos cruzou as fronteiras do estado recém-criado estado israelense empreendendo plena força de combate.
Após um custoso período de derrotas, os agora autodenominados de israelitas/israelenses reagiram com vigor, quando mostraram que não deixariam que uma nova e melancólica diáspora ocorresse. Reagiram implacavelmente não apenas derrotando seus vizinhos, mas, também, ampliando seu território pátrio, o que elevou ainda mais o ódio dos países árabes, que começaram a pregar a destruição do estado israelita.
Desde então, o único fato em que ambas as partes concordam plenamente é trágica: a paz está distante. Mas todos, certamente, querem a paz…