quarta-feira, 1 de março de 2017

A criação do Estado de Israel, 1948

15 de Julho de 1945, judeus sobreviventes do campo de concentração nazista de Buchenwald (alguns ainda vestem trajes de prisioneiro), no convés de um navio a caminho do porto de Haifa, na Palestina. Fotografia: Zoltan Kluger/IGPO/Getty Images Europe.
15 de Julho de 1945, judeus sobreviventes do campo de concentração nazista de Buchenwald (alguns ainda vestem trajes de prisioneiro), no convés de um navio a caminho do porto de Haifa, na Palestina. Fotografia: Zoltan Kluger/IGPO/Getty Images Europe.

Apesar de uma conturbada fundação, o Estado de Israel se consolidou perante seus vizinhos-inimigos por meio de uma forte política, quando não por meio das armas. A concretização de Israel, no Oriente Médio, transfigurou-se em uma problemática questão de interesse internacional, onde a paz cada vez mais se mostra acanhada. Cada um com sua bandeira, Israel e seus vizinhos encontram uma cambiante legitimidade para dar continuidade à luta.

Antes do nascimento do Estado de Israel, a criação da pátria já se tornara objeto de discussão global. No fim do século XIX, o judeu austríaco Theodor Herzl fortemente animou o imaginário da comunidade judaica internacional ao propor a criação de um estado israelense para, basicamente, servir de proteção aos seus pares, visto o alto grau de antissemitismo que percorria diversos países, sobretudo os europeus.
A esperança de uma pátria para os judeus começou a incendiar a imaginação de muitos e várias das cúpulas ocidentais concordavam que o povo judeu deveria ter sua própria nação mais uma vez. A problemática residia em encontrar a nação que cederia parte de seu território para tal fundação.
Em 1917, durante a Primeira Guerra Mundial (1914–1918), Arthur Balfour, um influente político britânico, enviou uma declaração ao lorde Rothschild, um banqueiro judeu e financiador de projetos judaicos na Palestina. A “Declaração de Balfour”, como ficou conhecida, apoiava a criação, na Palestina, de um lar para o povo hebreu. Entretanto, até então, a Inglaterra não possuía poderes sobre o território, que, à época, ainda pertencia ao Império Turco-Otomano, seu adversário na guerra.
Comitê da declaração de independência de Israel. A fotografia, no quadro, retrata Theodor Herzl, o visionário do moderno Estado de Israel. Fotografia: Rudi Weissenstein, Ministério das Relações Exteriores de Israel.
Comitê da declaração de independência de Israel. A fotografia, no quadro, retrata Theodor Herzl, o visionário do moderno Estado de Israel. Fotografia: Rudi Weissenstein, Ministério das Relações Exteriores de Israel.
No Museu de Tel Aviv, o então líder da comunidade judaica na Palestina, David Ben-Gurion, proclamou a criação do sonhado Estado de Israel: “Este é o direito natural dos judeus serem donos de seus próprios destinos, assim como todas as outras nações, em seu próprio Estado soberano”. (The History Channel, 2014, p.290) Fotografia: Government Press Office (GPO).
No Museu de Tel Aviv, o então líder da comunidade judaica na Palestina, David Ben-Gurion, proclamou a criação do sonhado Estado de Israel: “Este é o direito natural dos judeus serem donos de seus próprios destinos, assim como todas as outras nações, em seu próprio Estado soberano”. (The History Channel, 2014, p.290) Fotografia: Government Press Office (GPO).
Com o término da Primeira Guerra Mundial, entretanto, o gigantesco e conturbado Império Otomano deixou de existir, esfacelando-se em diversas “pátrias”. A Liga das Nações, órgão internacional que visava evitar uma nova guerra, concedeu, mediante mandato, à Inglaterra e à França o domínio sobre alguns dos antigos domínios otomanos, sendo àquela responsável pelo controle territorial do que se tornariam Israel, Jordânia, Cisjordânia e Gaza.
O plano de Balfour também concebia o reconhecimento dos direitos civis e religiosos dos povos islâmicos, ao mesmo tempo em que estava disposto a ajudar árabes em outras regiões. Os britânicos apoiaram a criação de uma província chamada Transjordânia para os palestinos. No entanto, o plano inglês abrigava um equívoco que se mostraria trágico: acreditava-se que os árabes aceitariam passivamente a chegada dos judeus.
Posteriormente, nas décadas de 1920-1930, cada vez mais judeus chegavam à Palestina, transformando o modo de vida da região. Muitos árabes se posicionaram contra e os primeiros atritos/confrontos logo se iniciaram. Os países vizinhos da Palestina, que eram e continuam a ser muçulmanos, não desejavam que o povo palestino ficasse em segundo plano uma vez que já estavam ali — e há bastante tempo.
O governo britânico, por mais difícil que fosse, tentou manter o equilíbrio, mas após o término da Segunda Guerra Mundial (1939–1945), quando as vísceras do Holocausto (massacre de aproximadamente seis milhões de judeus) foram expostas aos quatro cantos planeta, a centelha da união dos judeus para com seu próprio povo nunca ardeu tanto. Transformou-se em ufanismo e o sionismo (nacionalismo judeu), mais do que nunca, compreendido foi por parte considerável dos semitas. Consequentemente, o Congresso Sionista Mundial solicitou que um milhão de judeus fossem acolhidos na Palestina, o que comoveu o coração de milhões de pessoas.
Bandeira da República de Israel.
Bandeira da República de Israel.
Na Palestina as opiniões divergiam radicalmente e mostravam que estava cada vez mais difícil de conciliar interesses judeus e palestinos — alguns já pegavam em armas. A recém-criada Organização das Nações Unidas (ONU) teria que provar seu valor formulando alguma solução em que ambas as partes concordassem, mesmo que a nação israelita fosse fundada em outro local — solução esta que os palestinos concordavam, mas não os judeus que já somavam grande número no Oriente Médio.
Em maio de 1947, as Nações Unidas instituíram um comitê para delimitar o espaço para cada um dos povos no minúsculo território palestino, sendo as divergências entre as partes, mais uma vez, notórias e conturbadas. Deste comitê foi aconselhada a criação de dois estados independentes, um judeu e outro palestino. O relatório também estabeleceu que os lugares sagrados aos dois povos deveriam ser permanecer neutros, sob a tutela permanente das Nações Unidas.
Em novembro de 1947, apesar da reprovação palestina, o projeto foi votado e aprovado na ONU. Isto forneceu aval para o surgimento do Estado de Israel. Os países islâmicos, em solidariedade aos palestinos, mais uma vez, repudiaram o ato tido como ilegítimo e despótico.
O principal argumento árabe era o de que detinham todo o território, portanto, não lhes interessava ficar com menos da metade dele (aproximadamente 55% judeu e 45% palestino). Os judeus responderam dizendo que, em épocas mais remotas, seus ancestrais eram os donos de toda a Palestina (em 70 d.c., os romanos, após um duro cerco à cidade Jerusalém, expulsaram os judeus da Palestina — episódio conhecido como a segunda diáspora; Nabucodonosor II teria dado causa à primeira em 586 a.c.).
Embora ambas as partes já estivessem se engalfinhando há algum tempo, diz-se que no dia 9 de abril de 1948 as bandeiras de paz exclamaram horror, quando o ódio foi hasteado entre judeus e islâmicos. Ocorre que na parte ocidental de Jerusalém, na pacata aldeia de Deir Yassin, árabes conviviam em harmonia com os seus vizinhos, um grupo de judeus ortodoxos, e a boa relação entre os dois lados era, inclusive, reconhecida.
Entretanto, a paz se calou quando Deir Yassin foi atacada por um grupo de judeus que teria causado a morte de aproximadamente 200 pessoas (a aldeia tinha uma população estimada em 400 habitantes). Grande parte das vítimas era composta por mulheres e crianças. A crueldade dos radicais judeus acarretou uma imensa indignação perante as nações muçulmanas, onde o diálogo foi sepultado e a Guerra Árabe-Israelense, de 1948, fora municiada e engatilhada.
O grupo que atacou a aldeia teria sido formado por paramilitares de dois grupos sionistas, o Irgun e o Lehi. O Massacre de Deir Yassin, dessa forma, ultrajou o princípio judaico da “pureza das armas”, manchando, com o sangue de inocentes, a reputação de Israel.
Nasce o Estado de Israel
No mês seguinte ao massacre, mais precisamente em 14 de maio, finalmente desabrochava a tão sonhada República de Israel. As tropas britânicas se retiraram por ocasião do fim do seu mandato e logo no dia seguinte se iniciou a primeira de tantas guerras da região: uma força militar combinada composta por egípcios, sírios, libaneses e jordanianos cruzou as fronteiras do estado recém-criado estado israelense empreendendo plena força de combate.
Após um custoso período de derrotas, os agora autodenominados de israelitas/israelenses reagiram com vigor, quando mostraram que não deixariam que uma nova e melancólica diáspora ocorresse. Reagiram implacavelmente não apenas derrotando seus vizinhos, mas, também, ampliando seu território pátrio, o que elevou ainda mais o ódio dos países árabes, que começaram a pregar a destruição do estado israelita.
“Nasce o Estado de Israel”. Fotografia: The New York Times.
“Nasce o Estado de Israel”. Fotografia: The New York Times.
Momento simbólico: hasteamento da bandeira israelense ao fim da Primeira Guerra Árabe-Israelense, 10 de março de 1949. Fotografia: Micah Perry / Government Press Office (GPO).
Momento simbólico: hasteamento da bandeira israelense ao fim da Primeira Guerra Árabe-Israelense, 10 de março de 1949. Fotografia: Micah Perry / Government Press Office (GPO).
Desde então, o único fato em que ambas as partes concordam plenamente é trágica: a paz está distante. Mas todos, certamente, querem a paz…
REFERÊNCIAS:
BLAINEY, Geoffrey. Uma Breve História do Século XX. São Paulo, SP: Fundamento, 2008.
GILBERT, Adrian. Enciclopédia das Guerras: Conflitos Mundiais Através do Tempo. Trad. Roger dos Santos. São Paulo: M.Books, 2005.
HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos: O Breve Século XX: 1914-1991. 2 ed. 46 imp.. São Paulo: Companhia de Letas, 2012.
The History Channel Iberia B.V.. 365 dias que mudaram o mundo. trad. Mariana Marcoantonio. São Paulo: Planeta, 2014.
TOTA, Pedro. Segunda Guerra Mundial. In.: MAGNOLI, Demétrio (org.). História das Guerras. 5 ed. São Paulo: Contexto, 2011.

Yuri Gagarin: “A Terra é azul”

O cosmonauta soviético/russo Yuri Gagarin com seu traje espacial pronto para fazer história em 12 de abril de 1961. Fotografia: autor desconhecido.
O cosmonauta soviético/russo Yuri Gagarin com seu traje espacial pronto para fazer história em 12 de abril de 1961. Fotografia: autor desconhecido.

Em 12 de abril de 1961 o soviético Yuri Gagarin, aos 27 anos de idade, tornou-se o primeiro homem a chegar ao espaço sideral, comprovando que a missão era possível e consagrando a frase: “A Terra é azul. Como é maravilhosa, incrível!”. Pelo pioneirismo, Gagarin recebeu a valiosa medalha da Ordem de Lenin e se tornou herói além das fronteiras da imensa União Soviética.

Com a surpreendente velocidade de aproximadamente 28 mil quilômetros por hora, o cosmonauta soviético rapidamente deu uma volta completa na órbita do planeta Terra em apenas 108 minutos, estando a cerca de 315 quilômetros de altura.
Antes de embarcar, Gagarin teria deixado a seguinte mensagem:
Queridos amigos, conhecidos e desconhecidos, meus queridos compatriotas e toda a humanidade, nos próximos e breves minutos possivelmente uma nave espacial me levará ao distante espaço sideral do universo. O que posso dizer sobre estes últimos minutos, antes de começar o voo? Toda a minha vida surge diante de mim neste belo momento único. Tudo o que fiz e vivi foi para isto! (The History Channel Iberia B.V., 2014, p. 222)
A chegada de Yuri ao espaço foi mais uma das consecutivas vitórias soviéticas na recém-criada corrida espacial, quando a União Soviética e os Estados Unidos disputavam influência durante o período conhecido como Guerra Fria. A corrida espacial teve início por ocasião do lançamento do satélite soviético Sputnik em 4 de outubro de 1957.
“Povoadores do mundo, cuidemos dessa beleza, não a destruamos” — Gagarin, provavelmente emocionado ao ver o Planeta Terra do Espaço. Observação: este magnífico registro fotográfico não foi realizado por Gagarin. Fotografia: autor desconhecido.
“Povoadores do mundo, cuidemos dessa beleza, não a destruamos” — Gagarin, provavelmente emocionado ao ver o Planeta Terra do Espaço. Observação: este magnífico registro fotográfico não foi realizado por Gagarin. Fotografia: autor desconhecido.
Cápsula da Vostok 1 que trouxe Gagarin. O cosmonauta saltou de paraquedas a aproximadamente 7 mil metros de altitude. Fotografia: AFP.
Cápsula da Vostok 1 que trouxe Gagarin. O cosmonauta saltou de paraquedas a aproximadamente 7 mil metros de altitude. Fotografia: AFP.
O foguete Vostok 1 que lançou Gagarin aos céus decolou do Cosmódromo de Baikonur, no deserto do Cazaquistão. Fotografia: AP Photo.
O foguete Vostok 1 que lançou Gagarin aos céus decolou do Cosmódromo de Baikonur, no deserto do Cazaquistão. Fotografia: AP Photo.
Plataforma de lançamento do Vostok 1. Fotografia: RIA Novosti / Science Photo Library / Barcroft.
Plataforma de lançamento do Vostok 1. Fotografia: RIA Novosti / Science Photo Library / Barcroft.
REFERÊNCIAS:
LUMMERICH, Karl-Heinz. 1961: Yuri Gagarin no espaço. Acesso em: 29 mar. 2016.
The History Channel Iberia B.V.. 365 dias que mudaram o mundo. trad. Mariana Marcoantonio. São Paulo: Planeta, 2014.
The Telegraph. Yuri Gagarin in pictures: 50 years since Russian cosmonaut became first man in space. Acesso em: 29 mar. 2016.
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